TRANSFORMAÇÃO DIGITAL E TRANSFORMAÇÃO ATUARIAL

Mudanças constantes e imprevisíveis, disrupção em produtos, metodologias ágeis, economia digital, aprendizado de máquina e inteligência artificial. Como tantas transformações afetam as áreas atuariais das seguradoras?

Toda essa velocidade reimagina empregos e está transformando profissões na relação humanos e máquinas que precisam trabalhar lado a lado. Sinergia e eficiência aparecem cada vez mais como necessidades pela alta demanda por produtos e experiências de uso que atendam às expectativas de clientes e parceiros. Além disso, temos ainda como desafio, a evolução dos requisitos regulatórios globais e locais que exigem implementações estruturais.

As perspectivas são animadoras. Para um mundo em evolução acelerada, surge a expressão “Atuário Exponencial”, para se adaptar ao futuro do trabalho e tecnologias. A automatização chega para reduzir esforços das rotinas e trazer uma abordagem mais estratégica com foco na tomada de decisão e na geração de valor real. 

Estamos falando de um alinhamento completo das necessidades dos stakeholders, características dos produtos, canais de distribuição, preço do seguro, utilização, gestão de passivos e ativos financeiros, segurança e governança corporativa. Tudo isso, para o cliente, em um planejamento de negócios em longo prazo. O termo também vem sendo utilizado pela entidade americana globalmente reconhecida em atividades educacionais e de pesquisa mais representativa da classe, o Society of Actuaries [SOA], membro do International Actuarial Association [IAA], e busca manter elevado padrão profissional de práticas e observa as principais tendências em mensuração e gestão de riscos.

É um novo rumo para fazer mais, para ser mais, utilizando habilidades técnicas e experiência no entendimento profundo associando análises e métricas de ponta a ponta na gestão de riscos.

A integração entre ferramentas ou o desenvolvimento de sistemas dedicados estão robotizando um conjunto de tarefas atuariais, a capacitação passa a ser holística para refletir, criar e analisar sensibilidades e sentimentos do mundo real que a inteligência artificial não será capaz de reproduzir considerando questões como complexidade, ética, privacidade e custos. 

A exigência se volta para sofisticação cognitiva, comunicação e conhecimento de negócios. Atuários e empresas assumem compromissos necessários para captar e atender novas demandas, fornecendo insights e fazendo a ponte entre tecnologia e estratégia.

Automatizar os processos e atividades atuariais irá permitir maior participação como estrategista de negócios, aproveitando habilidades analíticas e preditivas para gerar insights de negócios, uma ponte entre ciência, tecnologia e estratégia corporativa. Atuários estarão mais livres para alavancar suas características e competências em relações duradouras, com comunicação, pensamento crítico, ceticismo e criatividade. E, assim, operar em seu pleno potencial, ajudando as empresas a atingirem as metas estabelecidas. A abordagem impulsionará o desempenho das equipes de trabalho e ajuda a manter a vantagem competitiva no mercado.

Por outro lado, no mercado brasileiro, as companhias de seguros estão enfrentando interrupções em um ritmo sem precedentes para quitar demandas de curto prazo, por falta de planejamento ou na pior das hipóteses por não ser entendida como prioridade de investimento em pessoas com as características mencionadas. As oportunidades de otimização se encontram justamente em macro atividades como consolidar e tratar fontes diversas de dados, processos, templates de cálculo e conexão com softwares de tratamento, e melhorias de áreas correlatas

É preciso focar em respostas, observar qualidade, somente realizar análises com objetivo definido e aplicar visão holística para redução máxima de re-trabalho. Ser mais ativo na busca por eficiência irá permitir melhor liderança do atuário em demandas por adaptação como as normas internacionais de contabilização, IFRS 17 (International Financial Reporting Standard), Principle-Based Reserving (PBR) e US GAAP Targeted Improvements. 

Para atender a demandas crescentes, ao mesmo tempo em que atuam estrategicamente nos negócios, os líderes esperam mais de suas equipes atuariais, e aqueles que complementam sua função atuarial com automação e inteligência artificial [IA] estarão melhor posicionados para atender seus objetivos. Uma pesquisa da Delloite US, menciona que 17% dos executivos globais relatam que estão prontos para gerenciar equipes com pessoas, robôs e IA trabalhando em conjunto.

De forma isolada, adotar novas tecnologias ou desenvolver novos processos não seria suficiente. Líderes atuariais devem reformular o foco da profissão, ajustando suas prioridades e responsabilidades para ser mais atuante na tomada de decisões estratégicas e na comunicação clara de seus estudos, recomendações e acompanhamento contínuo de decisões baseadas em dados. Ao mesmo tempo em que empresas devem fornecer os recursos e treinamentos para potencializar essa evolução.

Atualmente, atuários são reconhecidos como principais contribuintes de insights de negócios na indústria de seguros devido ao entendimento de riscos e analíticos, mas precisarão remover sobrecargas manuais por algoritmos do tipo máquina, inclusive contribuindo no desenvolvimento de sistemas e arquitetura de dados. Estes avanços já estão ocorrendo e permitem implementar melhorias e fazer a adaptação de escopo para o natural aumento de relevância em funções estratégicas diretamente ligadas ao resultado da companhia.

O setor de seguros, para alcançar esse desenvolvimento, precisa se conectar melhor com seus colaboradores para criar células sociais diversas com acúmulo de conhecimento e aplicação objetiva. Uma estratégia inteligente e inovadora para tirar proveito máximo da tecnologia irá mudar as atividades dos trabalhadores para algo cada vez menos repetitivo e mais motivador, através da união da produtividade humana e da máquina. 

A prática é interessante também para as áreas de recursos humanos, visto que a equipe entende e percebe a sensação de conectividade com os colegas de trabalho e com a empresa. O relacionamento também passa pelo trabalho conjunto de talentos atuariais com funcionários tradicionais. Sendo ao mesmo tempo, uma postura inclusiva, gratificante e significativa para a sociedade.

À medida que as companhias transitam para o futuro do trabalho, busca-se a estratégia de implementação de melhorias para reimaginar e redesenhar o fluxo de trabalhos atuariais. Uma abordagem possível é combinar uma estrutura mínima do entregável principal da área, por exemplo, o fechamento das reservas, com a técnica de pixelagem do projeto, e em seguida de cada uma das atividades associadas. O objetivo da célula de trabalho é decompor em nível granular para identificar alvos de automação com uso das tecnologias disponíveis. 

Posteriormente, o conjunto de atividades específicas é recomposto através do agendamento de rotinas, liberando tempo para que os atuários se concentrem somente na interpretação de indicadores e geração de propostas para obtenção de valor. A cada decisão tomada, a técnica de aprendizado de máquina, realizará recomendações cada vez mais assertivas sobre provisionamento e autoexplicabilidade de variações importantes para gestores e administração.

São possíveis nesse contexto sessões de brainstorming colaborativo para redefinição de regras e compilar uma lista de prioridades de processos, seleção com base em revisão pelo gestor, e acompanhamento semanal de andamento das melhorias. Dependendo do processo, espera-se redução de 80% a 90% no tempo de execução. Trabalhos integrados revelam que os erros de processo em atividades lógicas são humanos, seja em aplicações manuais ou com entendimentos equivocados sobre o que o sistema deveria fazer. O mais satisfatório aqui é revelar sem desconforto que errar é humano, e não há problema nisso. Desde a psicologia, é sabido que ao assumir nossas reais deficiências, conseguimos obter os caminhos da mudança,  e aprenderemos a direcionar a tecnologia para onde ela é necessária, na construção do melhor relacionamento homem e máquina.

Existe então a oportunidade de passar mais tempo como estrategistas de negócios e oferecer observações céticas e críticas para o C Level, podendo trazer contribuições de otimização de retorno aos acionistas, insights de como maximizar o ganho sobre o capital e apresentará estudos mais detalhados de mercado orientando áreas de produtos, comercial, subscrição, sinistros entre outras.

Para atuários e empresas, o tempo para a mudança é agora. Alvos básicos se iniciam com a facilitação da coleta e preparação de dados, progridem para prioritários como computação e análise, melhoria de relatórios com uso de ferramentas de B.I. e geração de insights a partir de dados e comunicação com a administração.

A transformação começa com a mudança de mentalidade de líderes de dados para líderes de negócios. Líderes de números para recomendações efetivamente estratégicas.

Para fazer esse salto, os atuários devem abandonar velhas rotinas e atuar ativamente na melhoria de processos internos e associados, potencializando suas habilidades atuariais, não somente as tarefas tradicionais. 

Há desafios importantes para interações com vender e resultados; definir métricas sobre concorrentes, produtos e canais de distribuição; identificar efeitos na rentabilidade, capacidade de avaliação geral de todos os custos e receitas da operação de seguros para maximizar resultados entrando em novos mercados com preço certos e momento oportuno.

O Atuário Exponencial poderá ser capaz de gerar insights únicos para conduzir decisões estratégicas, se entender o valor de associar cada vez mais conhecimento técnico e conhecimento de negócios. Se fizer, gerará efeito catalisador nos mais altos níveis das empresas sabendo utilizar as consequências da “Transformação Digital” para nortear a “Transformação Atuaria”. Os profissionais que abraçarem essa mudança irão elevar suas capacidades e fortalecer seu valor em suas organizações.

*Virlei Laranja é Coordenador Atuarial e Business Intelligence na Austral Seguradora