RISCOS E SINISTROS DE ENERGIA EÓLICA MARÍTIMOS: OFFSHORE WINDFARMS

Ao final da crise do petróleo das décadas de 70 e 80, a Dinamarca enxergou uma oportunidade ainda não explorada no, então, demandado mercado de geração de energia. Foi na cidade de Vindeby, localizada no Mar Báltico, na quarta maior ilha do país conhecida como Lolland, que o mundo conheceu o primeiro parque eólico marítimo.

Naquele momento, as 11 turbinas, comissionadas em 1991, geravam 5MW, levando energia a aproximadamente 2.200 residências dinamarquesas. Nos próximos 10 anos, pouco se explorou em termos de eólicas offshore, porém alguns outros parques surgiram na Suécia, Holanda, Reino Unido e na própria Dinamarca.

Apesar do pioneirismo dinamarquês, é na Inglaterra, mais precisamente na região costeira de Yorkshire, onde está localizado hoje o Hornsea 2, o maior parque eólico offshore em operação no mundo. Localizado no Mar do Norte, a 89 km da costa e em águas de até 70m de profundidade, o parque foi totalmente comissionado em agosto de 2022 e conta com 165 turbinas que juntas possuem capacidade para geração de aproximadamente 1,3GW, fornecendo energia a mais de 1 milhão de residências ao ano.

No Brasil, a primeira turbina de energia eólica foi instalada, no ano de  1992, em Fernando de Noronha. Após três décadas de consolidação de plantas eólicas em terra, os projetos agora se voltam para o mar.

Atualmente, apesar de ainda não termos parques eólicos offshore, observa-se um crescimento significativo de projetos do tipo, visto que, de acordo com dados de janeiro de 2022 do Ibama, os projetos em águas brasileiras já somam 80 GW, se comparado aos dados de julho de 2021 em que os projetos somavam 42 GW.

Assim como todo grande projeto, a construção de parques eólicos offshore possui riscos inerentes à sua construção e operação e, neste sentido, levantamos a seguinte questão: Por que será que precisamos ter um sinistro para acreditar que o risco existe?

Riscos bem analisados e geridos melhoram o resultado das empresas e, para isso, o conhecimento técnico em relação à cada atividade se faz necessário. Em uma boa gestão de riscos, é esperado que estes projetos demandem por variadas modalidades de seguro durante as suas etapas.  Da construção dos equipamentos, transportes terrestre, aéreo, fluvial e marítimo, à construção, montagem e instalação propriamente dita dos aerogeradores e seus equipamentos que formarão o parque eólico.

Na etapa de construção de offshore windfarms, além dos danos a pessoas, ambientais e reputacionais, observamos que os sinistros de danos físicos mais comuns podem estar relacionados a uma variedade de riscos, aos quais destacamos os acidentes ocorridos durante o transporte ou içamento de carga, por falha de projeto, colisão de embarcações, problemas na fundação e problemas de cabeamento e interligação às válvulas submarinas. Além destes, também é importante considerar perdas financeiras devido à potenciais atrasos ou interrupções nas obras de construção.

Nas etapas de operação e manutenção, observamos a incidência de incêndios muitas vezes relacionados a problemas nas turbinas eólicas como superaquecimento, super rotação, falhas de instalação, falha de cumprimento dos procedimentos operacionais e/ou falta de manutenção adequada. Além disso, é preciso se atentar para eventuais danos ocasionados por questões ambientais como ventos, correntes e condições de mar severos que podem acarretar alagamentos, queda das torres, entre outros. Vale considerar a incidência de raios que podem ser recorrentes especialmente se não houver manutenção adequada da torre.

Atenção também para riscos de perda de receita,  muito comuns nesta etapa. Muitos dos contratos consideram a venda da energia antes mesmo da sua geração.

É comum, ainda, a ocorrência de sinistros de mesma natureza em virtude da característica dos ativos envolvidos serem muitas vezes originários de um mesmo lote de fabricação. Neste caso, um lote com defeito, por exemplo, pode ocasionar sinistros em mais de um aerogerador, resultando no que chamamos no mercado de seguros como sinistros em série.

Um dos maiores desafios que observamos para a regulação de sinistros neste caso é a escolha acertada dos parceiros (fabricantes, fornecedores, prestadores de serviço) que acreditamos ser fundamental para manter o funcionamento do parque eólico com eficiência e qualidade. Assim, reduzimos a taxa de sinistralidade e eventuais problemas de assistência durante os reparos.

Adicionalmente, lembramos que a contratação da apólice de seguro com coberturas adequadas para cada risco também é importante para assegurar que o incidente seja amparado na apólice e esteja condizente com as expectativas da empresa contratante.

Se tratando de seguros para danos físicos, já existem soluções de apólices guarda-chuva para os danos sofridos durante a construção de um projeto, como por exemplo o clausulado de Seguros Windcar. Sua determinação explora aspectos das condições já previstas nos mais conhecidos clausulados Wellcar, CAR/EAR; e também de Riscos Operacionais; que estão disponíveis para contratação em conjunto com outros produtos, incluindo a perda de receita ou Lucro Cessante, Responsabilidade Civil, Poluição,  entre outros.

Por fim, em um mundo que prioriza energias renováveis, todas as possibilidades de geração devem ser consideradas. O uso da matriz eólica offshore está crescendo e, com esse cenário, o mercado segurador também está preparado para oferecer as coberturas mais adequadas a cada projeto. O uso da tecnologia e históricos de sinistros da atividade como um todo, auxiliam o mercado nas tomadas de decisão sobre o gerenciamento de riscos e gestão de sinistros. Bons ventos protegem o setor.

*Por Roberta Rodrigues, Reguladora de Sinistros Sênior da Matthews Daniel,  e Thalles Nogueira, coordenador de Sinistros da Austral Seguradora.